recordo os meus tempos de universitário deslocado, vivendo em gaia, num micro-apartamento com mais dois comparsas.
vizinhos sob e sobre nós, num tipico encaixotamento suburbano - "mas tem garagem!" (e com isto me convenceram os meus comparsas, garantindo-me dois anos inolvidáveis).
sobre nós vivia uma senhora e uma criança, e esporadicamente um homem.
a presença deste último manifestava-se sempre de um modo muito audível, em longas noites de prazer intenso com a sua senhora. a qualidade de construção do edifício deixava a desejar e os períodos de ausência do dito homem, provavelmente, potenciavam o amor e a paixão entre os dois.
nunca o vi e soube mais tarde que era camionista de longo curso.
hoje lembrei-me deste casal quando li uma notícia sobre justiça - um acordão do supremo:
"esposa indemnizada por impotência"
a história é triste e curta: um camionista em serviço, sofre um acidente grave que o deixou incapacitado para trabalhar e impotente sexualmente. recebeu a respectiva indemnização por danos físicos e morais, e reforma antecipada por invalidez.
e a esposa?
injustamente esquecida em todo este processo, privada do seu "homem", resolveu pedir para ser ressarcida pelo facto de ter ficado privada em definitivo da função sexual do seu esposo, de não poder conceber naturalmente o filho desejado, e de ganhar assim desgostos e angústias inusitadas.
e fez-se justiça.
o seu pedido foi atendido e foi-lhe concedida uma indemnização agora confirmada no supremo tribunal de justiça.
(nota: não tenho qualquer imagem que ilustre esta história. nem uma memória visual da casa de gaia...)
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