um dia ri alto e repreenderam-me...

a arena, furtivamente

à noite, furtivamente

viver debaixo da ponte

a minha sanita é melhor que a tua

pinceladas no azul

o meu muro

bem, um deles... e não é bem meu...

o muro

comemoraram-se ontem vinte anos sobre o início da derrocada do muro "da vergonha".
pensei em não escrever nada sobre este muro.
as memórias cinematográficas de wenders e fassbinder, com anjos e demónios em conflitos silenciosos, e as belíssimas ficções (anti)documentais dos mais recentes sucessos do cinema alemão pareciam-me suficientes para sintetizar os meus sentimentos sobre o tema.
mas não.
algo no espalhafato e delírio visual das comemorações oficiais - justificadas - relembrou-me o lado urbano-poético daquela imensa extensão de betão.
nunca, excepto talvez nos ainda existentes muros "de vergonha", os poetas do graffiti puderam expressar tão bem as suas ideias, receios e críticas.
é bom lembrar porque a nossa memória perde-se em situações mundanas, esquecendo por vezes o essencial.

foto disponibilizada pela agência anews (www.anews.eu). autor não identificado.

metáforas de vida

profundidade

não há ideia profunda que resista ao surreal provisório transformado em definitivo por abandono.
não há qualquer ideia de profundidade ao presenciar esta vista.
não existe qualquer perspectiva de futuro para este lugar.
a porta fechada, a escada estendal do abandono, a cratera resultante de desbastes de terras, o percurso pedonal que atravessa - com bastante uso - há vários anos.
qualquer profundidade. não há...

o obituário do antónio

sem palavras.
o seu som sempre esteve muito à nossa frente.

imagem de antónio sérgio de autor que desconheço. se alguém o conhecer, diga. eu corrigirei.