Lee Marvin, in "The man who shot Liberty Valance", foto Paramount
Há muitos anos atrás, esta imagem precedeu uma fala de um jornalista ameaçado:
"Liberty Valance taking liberties with the liberty of press?"
Para logo depois ser brutalmente espancado...
Infelizmente para todos nós, há algo muito nostálgico neste inesquecível "The man who shot Liberty Valance" de John Ford.
Recorda-nos uma época onde se impunha a vontade e a verdade pela lei das armas e do medo.
Uma época onde o colt e o chicote se impunham à verdade dos factos e onde quem se opunha a estas leis corria permanentemente risco de vida.
Era apenas um filme.
Mas nesta última semana o que se passou não foi filme, mas pareceu.
E mais uma vez alguém "tomou liberdades com a liberdade de impressa", e tomou a liberdade de várias pessoas retirando-lhes a vida.
John Ford pretendeu mostrar muito do que tinha sido - e ainda era em 1962 - a civilização americana, questionando a necessidade de frequentar a escola, de ter educação, de ler, e de com isso poder pôr em causa o que nos rodeia.
Era apenas um filme.
Mas nesta última semana vimos que alguém sem educação acha que ninguém a deve ter, e que devemos todos seguir as opiniões que alguém supostamente superior e inquestionável nos "manda" ter.
John Ford transmite a mensagem de que a pureza dos ideais por si só nunca vence, e que mesmo os que se sentem livres e entendem defender a liberdade acabam a apenas fazer prevalecer as suas ideias recorrendo à justiça das armas, mesmo quando lemos que "the education is the basis of law and order" e os ouvimos citar "all men are created equal".
Era apenas um filme.
Mas nesta última semana vimos os defensores da justiça entre os homens perseguir até à morte os autores dos ataques, e vimos outros candidatos a líderes defender o regresso da pena de morte, recordando a longínqua "olho por olho, dente por dente".
John Ford já não está entre nós, e infelizmente muito do que defendeu já parece estar esquecido. Muitas das nossas liberdades estão cada vez mais a ser postas em causa por todos nós em nome da nossa segurança, e se é verdade que muitos dizem não se importar com algumas dessas concessões, é o facto de o fazermos que demonstra que cedemos ao medo e aos perigos que alguns de nós enfrentam. Como se estivessemos a dizer que há algo de errado nas nossas "liberdades" porque foram essas "liberdades" que originaram os problemas.
Era apenas um filme, mas mesmo no filme se percebe que a origem do problema não está nas nossas "liberdades"...