hoje não há imagens.
pelo menos agora.
não sei se por ontem ter recordado Saramago e o ensaio sobre a cegueira,
se por me sentir mais "ovelha" em rebanho cego,
ou por me sentir mais "cego" por não fotografar nestes dias...
hoje cumpre-me falar da justiça "cega",
da democracia "igualitária",
da sociedade "livre",
do povo "soberano".
cumprindo um exercício de cidadania, ontem fui votar.
para respeitar os interesses da democracia, votei num dos seis candidatos com que não me identificava, apenas para que o meu voto fosse considerado.
optei por um dos que menos possibilidades teria de ser eleito, porque só assim fiquei com a consciência menos intranquila.
o meu desejo era o de manifestar o meu repúdio pela nossa classe política - na sua totalidade - optando por não escolher nenhum dos que se apresentavam para ser o "mais alto representante da nação", votando em branco, como os restantes 191 159 votantes em branco registados.
Mas por qualquer desígnio caciquista, estes 191 159 são, para efeitos eleitorais, NULOS.
Para efeitos eleitorais, optar por manifestar expressamente que não acreditamos nem confiamos em nenhum dos que se apresentam para a escolha, é NULO.
Optar por sair do conforto do lar ou do local de trabalho para manifestar uma opinião nunca é uma NULIDADE.
Se se tratasse de um candidato anti-sistema que recolhesse este número de votos - e parece que houve um... - estaríamos perante um caso de estudo para os futuros politólogos.
Se fosse este o número de votos que algum dos candidatos tivesse perdido em eleições sucessivas - e parece que também houve um... - teria sido uma estrondosa derrota.
Se fosse este o número de votos necessário para que uma maioria absoluta deixasse de o ser - e esteve quase... - o que será que aconteceria?
candidato vencedor: 2 230 104 (dois milhões, duzentos e trinta mil, cento e quatro votos).
candidatos vencidos 1 982 098 (um milhão, novecentos e oitenta e dois mil e noventa e oito votos)
candidatos vencidos + votos brancos 2 173 257 (dois milhões, cento e setenta e três mil, duzentos e cinquenta e sete votos).
por extenso percebe-se melhor a (pequena) diferença.
uma pequena adenda:
na assembleia nacional e nas assembleias municipais - ainda que num contexto diferente - quem não comparece a uma votação, faltou (o cidadão quando falta, abstem-se...). Quem não escolhe onde vota, abstem-se, e conta para o resultado final (o cidadão quando não escolhe onde vota, mas vota, tem um voto branco que é equiparado a NULO e que não conta...).
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